SONHO OU ATROZ REALIDADE
Acordei esta manhã com um sentimento estranho e confuso. Pensava no sonho estranho que tive, tentando lembrar-me os detalhes que sabia escabrosos. Um sonho estranho, mas bastante realista. Apesar desse realismo, havia momentos surrealistas totalmente alheios ao tema principal. Às vezes, o sonho saltava para uma colega da Universidade por quem guardo um carinho especial embora não a tenha visto em pessoa, há quase 40 anos. Ela encontrava-se em apuros, numa espécie de complot organizado e tentava ajudá-la a desenvencilhar-se e a proteger os filhos, um menino e outro ainda no ventre.
Passava de um lado para o outro dos dois sonhos que, em aparência diferentes, confrontavam-se os dois com males organizados.
No outro sonho, estava numa conferência organizada pelo Presidente Biden. Parecia uma mistura entre um seminário e uma conferência de imprensa, não sei muito bem. Ele era presidente, mas agia como professor ou algo parecido. A bem da verdade, era um pouco dos dois. Não éramos muitos, e ele explicava que a III Guerra Mundial era um facto iminente. Deu várias indicações sobre o que o levara a essa medonha e inevitável conclusão e sugeriu que o último elemento necessário, antes do início da guerra, seria uma decisão tomada por um “Primeiro-Ministro” a ser eleito. Como estávamos nos EUA, na realidade, seria um novo Presidente eleito, presumo.
A pessoa em questão tomaria uma decisão que,
combinada com outras circunstâncias, daria início à III Guerra Mundial. A
explicação foi acompanhada por uma apresentação de slides que mostrava, entre
outras coisas, o poder destrutivo de vários tipos de armas que não deixavam qualquer esperança quanto às possibilidades de sobrevivência do nosso planeta.
Lembro-me particularmente de um pequeno míssil direcionado para uma ilha. Esperava que dissolvesse completamente o alvo, mas, no sonho, como costuma acontecer, o míssil atingiu um navio de guerra. Mas não era um navio de guerra comum dos dias de hoje; parecia mais um couraçado do século XVIII, com o seu casco de madeira e velas brancas. Quando o míssil atingiu o casco, o navio não explodiu nem se estilhaçou em mil pedaços, como seria de esperar. Ao redor do navio, cardumes de milhões de peixes, que na verdade eram cadáveres humanos, começaram a afundar, descendo vagarozamente, como em câmara lenta, até às profundezas do oceano.
Um sonho esquisito e perturbador, sem dúvida, mas não alheio à conjuntura actual do mundo, com os meios de comunicação social, globais e oficiais a bombardear-nos com notícias apocalípticas e distorcidas, com as redes sociais a vomitar disparates numa corrente ininterrupta de contra-senso e violência verbal, com os ruídos ensurdecedores das minorias organizadas que se levantam contra maiorias inarticuladas e que, embora não totalmente silenciosas, tendem a dobrar-se perante a violência e pressão dessas minorias; num mundo onde o Eixo Verde e Vermelho está determinado a vender a alma para pôr fim à democracia e ao modo de vida ocidental; num mundo onde associações de mulheres se empenham a pôr fim às liberdades duramente conquistadas, cedendo terreno a uma nova corrente de “homens que querem ser mulheres”; num mundo que está pronto a condenar um povo por não se deixar exterminar; num mundo onde se tornou aceitável clamar pela aniquilação de um país e do seu povo apenas 80 anos depois de quase ter sido completamente obliterado da face da terra; num mundo onde agir e pensar com lógica, usando factos e razão transforma-se em delito de Direito Penal, afinal, sonhos destes não são assim tão inconcebíveis.
Refletindo sobre o conceito de Hannah Arendt da Banalidade do Mal, fica claro que a erosão do discurso racional e dos padrões éticos pode levar a resultados monstruosos que parecem rotineiros ou até mesmo justificados por aqueles que os cometem. Esta normalização de ações e pensamentos extremos torna tais sonhos ainda mais plausíveis. A banalidade do mal mostra como pessoas comuns podem tornar-se cúmplices de atrocidades simplesmente ao seguir ordens ou conformar-se com as pressões sociais sem questionar as implicações morais.
Só rezo para que permaneça um sonho e seja apenas o subconsciente a libertar a estupidez, loucura e a crueldade vividas durante o dia.
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